Poucas novelas da recente safra da Televisa foram tão completas, emocionantes e ousadas quanto El Amor Invencible. Exibida em 2023 na faixa nobre do Las Estrellas, a produção de Juan Osorio soube equilibrar com rara sensibilidade o clássico e o moderno, o melodrama e o comentário social, o romance e a denúncia. Em tempos de fórmulas repetidas, a trama estrelada por Angelique Boyer se destacou como uma verdadeira joia da teledramaturgia mexicana recente.
Baseada na novela portuguesa Mar Salgado, a história gira em torno de Leona Bravo, uma mulher que sobrevive a uma tragédia brutal, perde os filhos e é forçada a abandonar sua identidade. Anos depois, ela retorna disfarçada para confrontar os culpados, recuperar seus filhos e reescrever sua própria história. Angelique Boyer entrega uma das atuações mais maduras de sua carreira: sua Leona é forte, decidida, mas também vulnerável e profundamente maternal. Não é uma heroína de contos de fadas, e sim de carne e osso — e é por isso que o público se identificou com ela.
A novela sabe usar o melodrama com inteligência, construindo momentos de tensão e catarse. Juan Osorio e sua equipe conseguiram entregar um produto com ritmo envolvente, direção sofisticada e fotografia cinematográfica. A trilha sonora complementa com perfeição o tom emocional da obra.
Um dos maiores méritos de El Amor Invencible está na maneira como aborda temas polêmicos com naturalidade e respeito. O tráfico de pessoas, a adoção ilegal, o abuso infantil e a violência doméstica são tratados de forma direta, sem romantização. Mas talvez o aspecto mais inovador tenha sido a introdução de um personagem adolescente não-binário — um marco dentro da teledramaturgia tradicional da Televisa.
O elenco de apoio brilha com a mesma intensidade dos protagonistas. Daniel Elbittar e Danilo Carrera se destacam como os dois homens apaixonados por Leona, representando caminhos distintos em sua vida. Mas são os vilões — interpretados por Guillermo García Cantú, Leticia Calderón e Marlene Favela — que trazem tensão, impacto e complexidade à história. São antagonistas que não se limitam à maldade caricata: seus conflitos internos, passados obscuros e relações familiares adoecidas ampliam o peso dramático da narrativa.
O desfecho da novela foi corajoso e inesperado. Em vez de escolher entre Gael ou Adrián, Leona decide seguir sozinha, centrada no amor por seus filhos e em sua própria liberdade. Essa decisão dividiu o público: muitos esperavam um final romântico tradicional, mas o que El Amor Invencible entregou foi algo mais poderoso — uma mulher completa por si mesma. Foi um final coerente com a trajetória da protagonista, e uma mensagem firme sobre autonomia feminina, que raramente vemos nas novelas mexicanas.
El Amor Invencible não foi perfeita — alguns momentos exigiram certa suspensão de descrença, e o ritmo acelerado da reta final poderia ter sido melhor ajustado. Mas são detalhes que não comprometem a força do conjunto. A novela emocionou, provocou, inovou e, acima de tudo, honrou a essência do melodrama: tocar o coração do público.
Juan Osorio mostrou, mais uma vez, que sabe renovar o gênero sem perder sua alma. E Angelique Boyer provou que é uma intérprete capaz de liderar histórias intensas com talento e verdade. Em um momento em que tantas novelas seguem padrões previsíveis, El Amor Invencible nos lembrou que ainda é possível contar grandes histórias com alma, coragem e propósito.
Atualmente, El Amor Invencible está em exibição no canal pago Globoplay Novelas, desde o dia 9 deste mês, de segunda a sábado, às 20h55.
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