Crítica | “A.Mar”: entre boas intenções e uma execução sem pulso

Os protagonistas Estrella (Eva Cedeño) e Fabián (David Zepeda) em 'A.Mar' (Foto: TelevisaUnivision)

Estreando em fevereiro como a nova aposta da faixa das 20h30 no Las Estrellas, A.Mar, donde el amor teje sus redes chegou com a promessa de oferecer um melodrama contemporâneo, visualmente encantador e com uma protagonista feminina forte, capaz de romper com antigos estereótipos do gênero. Produzida por Ignacio Sada Madero (Un Refugio para el Amor, Contigo Sí), a novela adaptou a história da chilena Amar Profundo, uma trama com potencial, mas que perdeu força ao ser domesticada por fórmulas ultrapassadas da teledramaturgia mexicana.

A história gira em torno de Estrella Contreras (Eva Cedeño), uma mulher que retorna à sua cidade natal após a morte do pai, e assume a liderança de um sindicato de pescadores para sustentar a família. Lá, ela conhece Fabián Bravo (David Zepeda), um pescador viúvo, íntegro e dedicado à filha. O romance dos dois se desenrola em meio a tensões com o passado, disputas de poder e obstáculos sentimentais impostos por Érika (Laura Carmine), ex-namorada de Fabián, e Sergio (Víctor González), pai da filha de Estrella.

A ambientação costeira é um dos pontos mais interessantes da novela. As belas paisagens de Nayarit e o foco em um universo profissional raramente explorado na teledramaturgia mexicana são acertos visuais e conceituais que tentam diferenciar A.Mar das produções urbanas convencionais. Contudo, o roteiro não soube tirar pleno proveito desse cenário. As tramas paralelas pouco evoluíram, e o núcleo central seguiu um caminho seguro e excessivamente previsível.

Eva Cedeño, em sua terceira protagonista, entrega uma Estrella carismática, mas limitada por um texto que não permite grandes variações emocionais. David Zepeda, por sua vez, faz mais do mesmo, repetindo o tipo galanteador de outras novelas, sem grandes nuances. A química entre os dois protagonistas se manteve morna ao longo da história — suficiente para sustentar o romance, mas sem causar impacto. Entre os coadjuvantes, Laura Carmine se destacou com uma vilã mais contida, embora previsível, e Cynthia Klitbo trouxe intensidade em seus momentos dramáticos, mesmo com pouco espaço de desenvolvimento.

A direção geral seguiu o padrão técnico da Televisa, com boas tomadas externas e trilha sonora coerente. O tema principal, interpretado por Edén Muñoz, embalou bem a proposta da novela, embora não tenha tido grande repercussão fora da exibição.

O grande problema de A.Mar foi não saber onde queria chegar. O tom da novela variou entre o melodrama rural tradicional e uma tentativa de crítica social superficial, sem mergulhar de fato em nenhum dos dois. As mensagens sobre empoderamento feminino, família e ética no trabalho ficaram na superfície, esvaziadas por uma condução dramática sem ousadia. Em um momento em que o público exige tramas mais densas e conectadas com a realidade, A.Mar pareceu uma novela da década passada, presa a convenções e resoluções apressadas.

Em termos de audiência, a novela não conseguiu firmar-se como um sucesso. Mesmo com um elenco popular e uma estética interessante, A.Mar não atingiu os números esperados para a faixa nobre da Televisa, o que deve pesar na avaliação final da emissora sobre o projeto.

A.Mar é uma novela tecnicamente correta e visualmente bonita, mas sua falta de ousadia e de uma narrativa mais envolvente comprometeu o resultado. Foi uma produção com boas intenções e alguns méritos, mas que não conseguiu deixar marca nem emocional nem temática no público. A aposta em temas mais modernos exigia uma execução mais firme, coisa que infelizmente ficou apenas na intenção.

Redação

Paulista do interior, apaixonado por novelas, séries e filmes. Gamer nas horas vagas e entusiasta da cultura pop.

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