Crítica | “El Maleficio”: uma produção ambiciosa que afundou na mesmice

Fernando Colunga e Marlene Favela em pôster promocional (Foto: TelevisaUnivision)

Remakes de novelas clássicas são sempre um terreno arriscado. Entre as expectativas de resgatar uma história querida e a necessidade de inovar para conquistar o público moderno, muitos se perdem no caminho — e é exatamente isso que aconteceu com a versão de El Maleficio produzida por José Alberto Castro em 2023 para o horário das 21h30 no Las Estrellas. Longe de ser o retorno triunfal prometido, a novela rapidamente se tornou um símbolo de fracasso e desapontamento, entrando para a lista das maiores bombas da teledramaturgia recente.

Logo na sua concepção, El Maleficio deu sinais claros de falta de direção. O roteiro, que deveria ser a espinha dorsal da trama, se revelou uma verdadeira confusão. A tentativa de mesclar terror, suspense e melodrama soou forçada e incoerente, com saltos bruscos de tom que confundiam o espectador. O suspense nunca foi construído de forma gradual ou eficaz — cenas que deveriam causar tensão ou medo acabavam soando caricatas ou exageradas. Em muitos momentos, o texto parece um amontoado de clichês do gênero, apresentados sem nenhuma criatividade ou profundidade.

O desenvolvimento narrativo foi marcado por um ritmo desastroso. Em vez de uma progressão fluida, a novela se arrastava em episódios em que quase nada acontecia, intercalados com subtramas intermináveis e desnecessárias que desviavam o foco da história principal. Essas subtramas, muitas vezes desconectadas e mal exploradas, pareciam preenchimentos vazios para esticar a novela, o que causava uma clara sensação de enrolação e desgaste. Não raro, o público se via perdido, sem saber ao certo para onde a trama caminhava, o que é fatal para um folhetim que depende da tensão e do engajamento emocional.

O elenco, que poderia ser o grande trunfo da produção, acabou sendo outra vítima do roteiro fraco e da direção errática. Fernando Colunga, conhecido por sua presença imponente e papéis memoráveis, teve que lidar com um personagem mal definido, que ora parecia vilão ameaçador, ora tentava ser um anti-herói amoroso, sem que nenhuma dessas facetas fosse convincente. Sua atuação parecia muitas vezes deslocada, como se ele estivesse tentando salvar uma personagem e uma história que não ofereciam material suficiente.

Marlene Favela, por sua vez, não conseguiu imprimir à protagonista Beatriz Almazán a complexidade emocional que o papel exigia. Sua interpretação, em diversos momentos, soava monótona e desprovida da intensidade que a trama pedia, o que contribuiu para a fragilidade da química entre os protagonistas. Sem essa conexão fundamental, o melodrama perdeu força e as relações entre personagens pareceram superficiais.

(Foto: TelevisaUnivision)

Visualmente, a novela tinha potencial. As locações internacionais — entre elas Toledo, Vaticano e Nova York — conferiam à trama uma grandiosidade rara para o gênero. A direção de arte e os cenários, em geral, criaram ambientes que poderiam, se bem explorados, compor o clima sombrio e misterioso esperado para uma história de magia negra e ocultismo. No entanto, essa qualidade visual foi comprometida por uma escolha desastrosa nos efeitos especiais. Em uma época em que a tecnologia está mais acessível e avançada, os efeitos foram por vezes mal feitos, artificiais e datados, gerando risos e quebrando a imersão do espectador nos momentos mais cruciais. Esses erros técnicos foram um ponto baixo que reforçou a sensação de amadorismo em uma produção que se dizia ambiciosa.

Outro problema grave foi a inconsistência tonal. O folhetim não conseguiu encontrar um equilíbrio entre os gêneros que tentava abraçar. Ora a novela se encaminhava para o terror, ora para o drama familiar, ora para o suspense, sem nunca estabelecer uma identidade clara. Essa indecisão narrativa deixou o público desconfortável e desorientado, prejudicando a construção da atmosfera que um bom thriller sobrenatural precisa para funcionar.

A direção também merece críticas. Muitas cenas careciam de ritmo e dinâmica, resultando em momentos arrastados que testavam a paciência dos espectadores. O uso exagerado de diálogos explicativos e a falta de sutileza na construção dos conflitos contribuíram para uma experiência cansativa. Em uma trama que depende da tensão, a falta de economia narrativa e o excesso de exposição soaram como erros imperdoáveis.

Nas redes sociais e entre críticos especializados, El Maleficio virou sinônimo de decepção. Memes, críticas ácidas e comentários sarcásticos dominaram o discurso, evidenciando que a produção não apenas falhou em entregar entretenimento de qualidade, mas também em respeitar o legado de um dos títulos mais emblemáticos da televisão mexicana.

Em suma, El Maleficio é o exemplo perfeito de como uma novela, mesmo com orçamento alto, elenco renomado e premissa promissora, pode desmoronar por falhas graves de roteiro, direção e produção. Um projeto que poderia ter sido um marco no gênero de suspense e terror terminou como um desastre retumbante, frustrando público e críticos e manchando a reputação de seus envolvidos.

Se esta novela serve para algo, é como um alerta: a reinvenção de clássicos exige mais do que ambição e recursos — exige cuidado, coerência e respeito pela inteligência do espectador. Infelizmente, El Maleficio não passou perto disso.

Redação

Paulista do interior, apaixonado por novelas, séries e filmes. Gamer nas horas vagas e entusiasta da cultura pop.

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