Crítica | “Minas de Pasión” confirma maturidade de Ortiz de Pinedo, mas esbarra na falta de vibração

Pôster promocional da novela Minas de Pasión (Foto: TelevisaUnivision)

Minas de Pasión, exibida entre agosto de 2023 e janeiro de 2024, chegou ao Las Estrellas com o peso de ser a nova aposta de Pedro Ortiz de Pinedo para o horário das 18h30 — uma faixa cada vez mais exigente, marcada por obras que tentam equilibrar melodrama tradicional com uma ambição estética mais contemporânea. A novela, adaptação de La Patrona (2013), assume desde o início o formato clássico da telenovela de vingança, com direito a mocinha injustiçada, vilã poderosa, retorno triunfal e uma disputa simbólica por território, poder e justiça.

Na trama, Livia Brito interpreta Emilia Sánchez, uma mulher humilde que trabalha nas minas da fictícia San Pedro e se envolve com Leonardo Santamaría (Osvaldo de León), filho da poderosa Roberta Castro (Anette Michel), a patroa do povoado. Um romance que nasce marcado pela desigualdade social, preconceito e intrigas políticas, e que, claro, acaba em tragédia. A primeira fase da novela — mais crua e dolorosa — se dedica a destruir Emilia, humilhá-la publicamente e separá-la do filho. Só então ela ressurge, sob nova identidade, para se vingar daqueles que arruinaram sua vida.

Até aqui, nada de novo. Minas de Pasión se apoia no esqueleto narrativo de tantas novelas do gênero: a mocinha oprimida, a virada de jogo, a catarse final. Mas o que poderia ser apenas mais uma repetição de fórmula se transforma, pelas mãos de Ortiz de Pinedo, em uma obra que, embora previsível, busca ser sólida em sua execução.

A ambientação é, sem dúvida, um dos trunfos da novela. As sequências filmadas em minas reais, com figurinos empoeirados, cenário árido e atmosfera opressora, conferem verossimilhança à trama. Há um contraste interessante entre o mundo subterrâneo, sujo e masculino das minas, e o universo controlado, patriarcal e aparentemente civilizado da mansão da vilã. Essa dualidade simbólica — entre o que está escondido e o que é exposto — acompanha toda a narrativa e reforça as disputas de poder que permeiam a história.

A direção geral mostra um Pedro Ortiz de Pinedo mais seguro, amadurecido em relação às suas experiências anteriores em Diseñando tu Amor e Cita a Ciegas. Ele demonstra domínio técnico, sabe trabalhar o tempo dramático e investe em uma estética mais realista, sem o tom excessivamente açucarado comum ao melodrama tradicional. Mas seu grande acerto está na forma como conduz os núcleos paralelos — mais ricos e interessantes do que o núcleo central.

Livia Brito vive a protagonista Emilia em Minas de Pasión (Foto: TelevisaUnivision)

O casal protagonista, infelizmente, não sustenta a novela com o vigor necessário. Livia Brito tem presença cênica, mas sua Emilia é um exemplo de protagonista que sofre muito, mas sente pouco. Falta profundidade emocional, densidade nos momentos-chave. Osvaldo de León, por sua vez, entrega um Leonardo apático, pouco expressivo, com química limitada com a protagonista. A relação entre os dois é morna, marcada por cenas de conflito que raramente passam do protocolar. O romance central, que deveria ser a alma da novela, é apenas um motor narrativo mecânico.

Em contrapartida, o elenco secundário compensa essas limitações com boas atuações. Cynthia Klitbo, como Zaira, oferece uma das performances mais consistentes da trama — sua personagem, amarga e ressentida, é ao mesmo tempo vítima e cúmplice do sistema que oprime Emilia. Sylvia Sáenz, no papel de Sara, mostra intensidade e entrega emocional, conferindo camadas inesperadas a uma personagem que poderia ter se perdido na caricatura. Já Anette Michel, de volta às novelas após anos dedicada a realities e projetos paralelos, entrega uma Roberta Castro elegante e manipuladora, mas menos ameaçadora do que o papel exigia. Faltou a ela aquela energia cortante que tornaria a vilã verdadeiramente temida. Roberta é poderosa, sim — mas não assusta. E isso enfraquece boa parte da tensão da novela.

O roteiro, por sua vez, sofre com os mesmos problemas recorrentes nas adaptações mexicanas de tramas latino-americanas: excesso de explicações, viradas antecipadas, conflitos reciclados. A estrutura dramática é funcional, mas previsível. O telespectador experiente logo percebe onde cada personagem vai parar, quem se redimirá, quem cairá em desgraça e quem será punido com requintes de moral. Isso não seria um problema se a novela compensasse com emoção. Mas em boa parte dos capítulos, Minas de Pasión parece funcionar no piloto automático: bem feita, correta, mas sem pulsação.

É só na reta final que a novela parece acordar. Os conflitos se intensificam, o embate entre Emilia e Roberta ganha força, os segredos vêm à tona com mais ritmo. O último mês traz, enfim, a catarse que se esperava desde o início — mas a sensação é de que tudo poderia ter sido mais compacto, menos diluído. A novela tem cerca de 106 capítulos, e claramente poderia ter contado a mesma história com 20 ou 30 episódios a menos, mantendo o impacto e evitando o desgaste.

No fim das contas, Minas de Pasión é uma novela bem produzida, tecnicamente refinada e narrativamente competente, mas que não emociona como poderia. Faltou brilho no casal principal, faltou vilania com mais peso e faltou coragem para romper com os vícios do melodrama de vingança. Ainda assim, é um projeto que consolida Pedro Ortiz de Pinedo como um produtor sério, disposto a se estabelecer longe da comédia e que já demonstra domínio das ferramentas do folhetim tradicional.

Trata-se de um produto pensado para o público tradicional, que busca em novelas justamente aquilo que Minas de Pasión oferece: justiça, redenção, punição e amor. E dentro desse pacto, ela funciona. Só não vai além.

Redação

Paulista do interior, apaixonado por novelas, séries e filmes. Gamer nas horas vagas e entusiasta da cultura pop.

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