Crítica | “Amor Amargo” conquista pelo visual, mas perde força na condução da história

Daniela Romo, Andrés Palacios e Ana Belena em pôster promocional da novela (Foto: TelevisaUnivision)

Exibida pelo Las Estrellas entre novembro de 2024 e fevereiro de 2025, Amor Amargo chegou à televisão mexicana carregando expectativas. Produzida por Pedro Ortiz de Pinedo — em sua segunda aposta no horário das 18h30, após o insucesso de Minas de Pasión — a novela prometia ser uma nova joia do melodrama latino. Com uma estética refinada, locações exuberantes e nomes de peso no elenco, o folhetim foi apresentado como uma obra emocionalmente arrebatadora. No entanto, apesar de seu acabamento técnico primoroso, Amor Amargo falha em entregar a profundidade narrativa necessária para se destacar em meio à concorrência, revelando-se um produto bonito, mas oco.

Baseada na novela portuguesa Ilha dos Amores, exibida originalmente pela TVI em 2007, a adaptação mexicana transporta a trama luso-tropical para o universo da cacauicultura, ambientando os acontecimentos numa luxuosa fazenda do sul do México. A história gira em torno de Gabriela (Ana Belena), uma jovem que retorna à fazenda de sua infância após a misteriosa morte de seu pai. A chegada da protagonista desencadeia a revelação de segredos familiares, disputas por herança e amores do passado. A figura central da narrativa é a matriarca Leonor (Daniela Romo), uma mulher fria e autoritária, determinada a proteger os interesses da família a qualquer custo.

Logo nos primeiros capítulos, salta aos olhos o esmero visual de Amor Amargo. A fotografia é rica em tons dourados e terrosos, explorando com maestria os campos de cacau, os interiores da fazenda e as paisagens naturais ao redor. A trilha sonora também merece elogios, pontuando com delicadeza os momentos dramáticos e reforçando o clima de romance e tensão. A direção de arte e o figurino trabalham em harmonia para compor uma atmosfera envolvente, remetendo aos clássicos melodramas rurais com um toque contemporâneo. A produção claramente investiu alto em estética — e o resultado é digno de cinema.

O elenco principal também merece reconhecimento. Ana Belena entrega uma Gabriela vulnerável, porém determinada, em uma das melhores atuações de sua carreira. Cynthia Klitbo, como a rival direta da protagonista, imprime um tom passional ao seu papel, equilibrando vilania e humanidade. Já Daniela Romo, intérprete da manipuladora Leonor, brilha em cena com sua presença majestosa — mesmo enfrentando um obstáculo de credibilidade: a escalação como mãe de Klitbo, apesar de suas idades semelhantes. Embora ambas sejam atrizes veteranas e talentosas, o descompasso entre o papel e a realidade biológica das personagens salta aos olhos, gerando certo ruído na recepção do público.

Ana Belena e Andrés Palacios em cena da novela Amor Amargo (Foto: TelevisaUnivison)

No entanto, o que poderia ser um novelão à altura de sua proposta esbarra em um roteiro arrastado e previsível. A condução dos acontecimentos se torna burocrática, com capítulos inteiros dedicados a conflitos mal resolvidos, revelações adiadas artificialmente e núcleos paralelos sem força dramática. Falta urgência aos acontecimentos, e muitas tramas secundárias parecem ter sido concebidas apenas para preencher tempo de tela, sem relevância para o arco principal. É como se a novela tivesse medo de arriscar — e preferisse seguir pelo caminho mais seguro, mesmo que isso significasse sacrificar o ritmo da narrativa.

Outro problema está no excesso de diálogos expositivos, que comprometem a fluidez da trama e tratam o espectador como alguém que precisa ser lembrado a cada momento do que está em jogo. Em vez de apostar em reviravoltas genuinamente surpreendentes ou em construções de personagens mais sutis, o roteiro prefere o caminho do óbvio, resultando em situações que qualquer telespectador habituado ao gênero já viu diversas vezes. A novela tenta atualizar o melodrama clássico, mas não oferece novidades o suficiente para se justificar enquanto remake — especialmente considerando que Ilha dos Amores tinha uma proposta já consolidada e coesa.

Apesar de tudo, alguns momentos isolados conseguem emocionar. Os embates entre Romo e Belena, as cenas de Gabriela com as crianças da fazenda, ou os confrontos silenciosos entre os funcionários e os donos da propriedade revelam lampejos do potencial que Amor Amargo poderia ter alcançado caso houvesse maior ousadia criativa. Pedro Ortiz de Pinedo prova novamente que é um produtor atento à forma, mas que ainda precisa desenvolver com mais firmeza sua voz autoral na dramaturgia. A beleza plástica não pode substituir a alma de uma história — e, nesse ponto, a novela falha.

Amor Amargo não é ruim, mas tampouco é memorável. É um produto televisivo que impressiona pela estética, mas deixa a desejar em profundidade e inovação. Para quem busca um folhetim tradicional, com todos os ingredientes clássicos do gênero, pode até funcionar como entretenimento escapista. Mas, para quem espera algo novo, provocativo ou emocionalmente arrebatador, a experiência pode soar morna, previsível — e, ironicamente, amarga.

Redação

Paulista do interior, apaixonado por novelas, séries e filmes. Gamer nas horas vagas e entusiasta da cultura pop.

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