Crítica | “Diseñando tu Amor” é previsível, mas eficiente ao falar com seu público-alvo

Pôster promocional de Diseñando tu Amor (Foto: TelevisaUnivision)

Diseñando tu Amor, novela exibida entre abril e outubro de 2021 no Las Estrellas, chegou silenciosa à grade vespertina da Televisa, ocupando a extinta faixa das 16h30. Produzida por Pedro Ortiz de Pinedo — até então conhecido por seu trabalho cômico em obras como Una Familia de Diez e Cita a Ciegas —, a novela marcou sua primeira investida no universo dramático. O resultado? Um folhetim que não ousa, não reinventa, mas que sabe exatamente o que está oferecendo: um melodrama clássico, emocional e acessível. E, dentro dessa proposta, cumpre sua função com competência surpreendente.

A trama gira em torno de Valentina, interpretada por Gala Montes, uma jovem sonhadora que vê sua vida virar do avesso após a morte do pai e a descoberta de diversas traições. Ao lado da irmã Nora (Ale Müller), ela decide recomeçar em uma nova cidade, enfrentando uma sequência de provações — da perda da família ao nascimento de um novo amor. A história é baseada na novela portuguesa Meu Amor, vencedora do Emmy, e embora o texto mantenha a espinha dorsal da obra original, a adaptação se encaixa bem no formato tradicional das novelas mexicanas de horário vespertino.

O enredo não foge do que já é conhecido por quem acompanha telenovelas há anos: vilões ardilosos, segredos do passado, reviravoltas mirabolantes (incluindo a clássica “morte falsa”), uma mocinha injustiçada e um galã íntegro e apaixonado. Mas Diseñando tu Amor tem um charme próprio. Ela não tenta modernizar a linguagem, nem se apoiar em polêmicas ou pautas sociais como algumas de suas contemporâneas. Em vez disso, aposta no emocional puro, no romance conduzido com suavidade, e em uma estrutura narrativa que se assemelha a um cobertor velho e confortável: previsível, mas reconfortante.

Gala Montes, em seu primeiro papel como protagonista absoluta, se sai muito bem. Há em sua Valentina uma doçura que conquista, mas também uma força que surpreende. A atriz consegue equilibrar fragilidade e determinação com naturalidade, sem cair no estereótipo da mocinha ingênua que sofre passivamente. Seu trabalho vocal também é um diferencial, já que Gala interpreta algumas músicas da trilha sonora da novela, estabelecendo uma conexão emocional ainda mais profunda com o público.

Mas é Ale Müller quem rouba a cena. Sua Nora é uma vilã movida por insegurança, inveja e frustração, não apenas maldade gratuita. Müller entrega uma interpretação que humaniza a personagem, evitando a caricatura fácil. Nora tem momentos de crueldade, mas também de dor, o que torna sua rivalidade com a irmã algo mais crível, mais orgânico. É justamente esse embate entre as duas que sustenta boa parte do drama da novela, funcionando como o verdadeiro motor narrativo da trama.

Juan Diego Covarrubias, no papel do galã Claudio, tem presença agradável e funciona como contraponto emocional para Valentina. No entanto, sua atuação, embora correta, carece de intensidade. Claudio é um personagem que cumpre sua função na história, mas não deixa grandes marcas. É bonito, romântico, leal — e só. Não há um arco expressivo de transformação ou conflitos mais profundos que permitam ao ator mostrar mais camadas.

Outros nomes veteranos como José Elías Moreno, Frances Ondiviela e Sergio Goyri dão peso ao elenco, mas estão presos a personagens que não fogem do básico. As atuações são boas, mas os papéis oferecem pouco espaço para nuances. Ainda assim, ajudam a manter a novela em um nível aceitável de solidez interpretativa.

Gala Montes vive a protagonista Valentina em Diseñando tu Amor (Foto: TelevisaUnivision)

A direção de Pedro Ortiz de Pinedo surpreende positivamente. Mesmo sem experiência prévia no melodrama, o produtor demonstra respeito pela linguagem do gênero. Há um cuidado visível com a estética — iluminação suave, fotografia otimista, uso frequente de planos médios e closes nos momentos de emoção — que remete aos melodramas dos anos 2000, quando a Televisa ainda reinava absoluta no segmento. A ambientação no mundo da moda, embora apenas superficialmente explorada, oferece alguma diferenciação visual, com figurinos mais elaborados e um toque contemporâneo que não chega a destoar da proposta tradicional da novela.

Entretanto, o ritmo da narrativa é um problema recorrente. A trama, embora envolvente nos primeiros capítulos, cai em ciclos repetitivos a partir do segundo terço. Separações e reconciliações em excesso, vilões que escapam impunes por tempo demais, mocinhos que perdoam com facilidade desconcertante… tudo isso contribui para uma sensação de estagnação. A novela parece, em certos momentos, mais interessada em esticar os conflitos do que em resolvê-los com coerência. O artifício da morte falsa de um personagem importante, por exemplo, surge mais como manobra para ganhar tempo do que como recurso narrativo com peso real.

Apesar dessas falhas, Diseñando tu Amor cativa pelo que tem de mais honesto: seu afeto pelo melodrama. Em vez de tentar parecer “moderna” ou “ousada”, a novela se assume como uma história simples, com emoções à flor da pele e uma moral bem definida. É uma produção pensada para o público que busca conforto, que gosta de torcer por mocinhas, odiar vilãs e se emocionar com declarações de amor, pedidos de perdão e reencontros de família. Não é uma novela para quem busca inovação — mas é perfeita para quem ainda encontra beleza no clássico.

O público respondeu bem. A novela estreou com bons índices de audiência, na casa dos 2,3 milhões de espectadores, e cresceu ao longo dos meses, alcançando mais de 3 milhões no capítulo final. Sua boa repercussão digital, somada ao carinho do público mais fiel, mostrou que ainda há espaço para histórias como essa.

No fim das contas, Diseñando tu Amor não quer ser revolucionária — e talvez por isso funcione tão bem. Ela conhece seu público, respeita sua proposta e entrega exatamente o que promete: uma novela emotiva, romântica e leve. Pedro Ortiz de Pinedo sai dessa experiência com saldo positivo, Gala Montes se firma como protagonista carismática e Ale Müller se consagra como uma das atrizes jovens mais interessantes da nova geração. É uma novela que não grita, mas toca. E que, justamente por isso, deixou sua marca silenciosa e sincera no horário vespertino da Televisa.

Redação

Paulista do interior, apaixonado por novelas, séries e filmes. Gamer nas horas vagas e entusiasta da cultura pop.

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