As primeiras impressões de Amanecer, nova produção de Juan Osorio para o horário nobre do Las Estrellas, deixam claro que a novela pretende ser um tributo ao melodrama tradicional — daqueles recheados de paixões intensas, vilões ardilosos, sofrimentos extremos e redenção ao amanhecer. Baseada em Monte Calvario (1986), a trama é apresentada como um épico rural com estrutura bem conhecida do público, mas envolto em um cuidado estético que chama atenção já no primeiro capítulo, disponibilizado em preestreia digital.
A produção demonstra desde o início que Osorio não economizou em ambientação: as plantações de morango, o vilarejo em Michoacán e os cenários internos com textura realista dão corpo a uma narrativa que precisa dessa conexão com o campo, com a terra e com os vínculos familiares enraizados. A fotografia é quente, densa e generosa em planos abertos, o que valoriza o drama e os conflitos sociais anunciados já nas cenas iniciais.
Fernando Colunga, retornando como protagonista absoluto, mostra segurança e magnetismo. Seu personagem carrega traumas e conflitos internos que, mesmo sem muito aprofundamento imediato, ganham peso por sua entrega contida e firme. Livia Brito, sua parceira de cena, surpreende pela maturidade em sua composição: longe dos maneirismos de seus papéis anteriores, entrega uma mocinha decidida, que promete evoluir dentro de um arco emocional exigente. Juntos, o casal central tem química, ainda que construída sobre uma base de diálogos e situações já bastante vistas — o mérito está na entrega dos atores e no carisma que sustentam o interesse.
A trilha sonora e o uso de silêncios dramáticos funcionam bem como reforço emocional. O primeiro capítulo apresenta um bom ritmo, sem pressa, mas também sem dispersão. Há espaço para apresentar as figuras-chave e delinear os conflitos centrais, principalmente a divisão de classes, a opressão machista e os traumas do passado, temas recorrentes do gênero. A presença de atores experientes como Blanca Guerra e Ernesto Laguardia contribui para dar gravidade à narrativa e promete tramas paralelas bem sustentadas.
Se por um lado Amanecer não esconde sua natureza clássica — e talvez até se orgulhe disso —, por outro, ela não parece disposta a reinventar a roda. O que se vê é um projeto sólido, tecnicamente cuidadoso e com elenco bem escalado, mas ainda preso a fórmulas consagradas. Para quem busca inovação ou subversão do melodrama, a novela pode soar previsível. Mas para o público fiel a esse formato, Amanecer parece entregar exatamente o que promete: uma história intensa, romântica, com antagonistas claros, dramas familiares e muitos recomeços emocionais.
O desafio será manter esse fôlego ao longo dos capítulos, aprofundar os conflitos e sustentar a promessa estética sem deixar o conteúdo escorregar para o lugar-comum. Por ora, Amanecer acerta ao reafirmar que o melodrama clássico segue vivo — e, com cuidado e competência, ainda pode emocionar com força.